Lado A (EXTRA) : 30/04 - Dia Internacional Do Jazz
Para celebrar a efeméride de um dos principais pontos de interesse da newsletter, convoquei Gabriel Ferreira com algumas breves recomendações
5 músicas para ouvir no Dia do Jazz:
1 - When Sunny Gets Blue (Today and Tomorrow)
3 - Yearning (The Blues and the Abstract Truth)
4 - Soul Station (Soul Station)
5 - Salt Peanuts (Jazz at Massey Hall)
COMENTÁRIOS:
Saindo um pouco da obviedade, trouxe para o dia do jazz essas cinco músicas de álbuns ainda não comentados nas nossas seções quinzenais de jazz. São favoritas pessoais!
1 - When Sunny Gets Blue é uma das minhas preferidas dentre o vasto e magistral repertório do pianista McCoy Tyner. Neste trio com Jimmy Garrison (baixo) e Albert Heath (percursão), o Tyner está mais à vontade do que nunca, escorrendo pelo piano como quem passeia livremente num dia de sol.
2 - Is That So se encontra num dos álbuns mais subestimados do genial Lee Morgan. The Rajah foi gravado em 1968 mas foi publicado somente em 1985, quando o estilo já perdia tração para as grandes estrelas do rock. Is That So é uma gema dentro de uma gema, de sonoridade convidativa e bem humorada. Acompanhando Morgan, Billy Higgins ocupa a percursão, Hank Mobley o sax tenor, Cedar Walton o piano e Paul Chambers, o baixo.
3 - Yearning é para a mim a música mais interessante do álbum mais interessante de Oliver Nelson! The Blues and the Abstract Truth é recheado de talentos em franca ascenção: Paul Chambers no baixo, Eric Dolphy no piano (revezando-se com Bill Evans), Freddie Hubbard no trompete, Nelson no alto sax, e Roy Haynes na percusão. Yearning é o ápice da química entre Hubbard e Nelson, num diálogo ora frívolo, ora eloquente, que se traduz num otimismo sutil e sem pressa.
4 - Soul Station é sem dúvida o melhor álbum de Hank Mobley, aquele que ficou conhecido como um intermediário entre a expressividade explosiva de Coltrane e Coleman Hawkins, e a suavidade descolada de Lester Young. A música Split Feelings é tocante, espirituosa, com ares de gospel, temperada com fé e esperança. E em boa companhia: Art Blakey na percursão, Paul Chambers no baixo e Wynton Kelly ao piano.
5 - Jazz at Massey Hall foi uma gravação lendária da passagem da turnê de Charlie “The Bird” Parker pelo Canadá. Acompanhado dos espetaculares Bud Powell (piano), Charles Mingus (baixo), Dizzy Gillespie (trompete) e Max Roach (percussão), o quinteto proveu uma experiência espetacular que mantém o brilho mesmo nos dias de hoje. Salt Peanuts é o ponto alto da proficiência técnica de músicos que já eram as referências de seu próprio tempo.
EXTRA: ASSISTA!
JAMMIN’ THE BLUES (1944, GJON MILLI)
Dirigido pelo fotógrafo albanês Gjon Milli, radicado nos Estados Unidos. Responsável por fotografar (e filmar), músicos do calibre de Ella Fitzgerald, Charlie “The Bird” Parker, Coleman Hawkins, Hank Jones, entre muitos outros.
Assina um trabalho magistral no que o cinema faz melhor ao invés de contar, mostre!. É isto que o “Jammin’ the Blues” proporciona ao evitar didatismos, diálogos redundantes aqui a mágica está na frenética mudança de ritmos, nos detalhes, na fumaça, nas sombras, o preto e branco não é homogêneo aqui.
Tudo ganha uma conotação própria. Se a precariedade da cópia pode afastar muito, a força de imagens compostas com um hercúlea preocupação de artesão que transpões através da sinestesia, da euforia que apenas a música e a interação dos seres humanos ao produzir as músicas proporcionam em uma das cadeias que fazem a vida de fato valer a pena, mesmo que naquele recorte específico de tempo em que o clímax não acaba com o desfecho, mas sim o transcende.
Os músicos em questão: Lester Young, Red Callender, Harry Edison, Marlowe Morris, Sid Catlett, Barney Kessel (único músico branco presente na gravação), Jo Jones, John Simmons, Illinois Jacquet, Marie Bryant, Archie Savage e Garland Finney.