Lado B (09): As reflexões debaixo do nosso travesseiro - Uma conversa com Renan Rocha
Mudanças, atrasos e movimentos. Pensamentos possíveis a partir de uma entrevista com Renan Rocha, um artista inquieto.
Depois de imprevistos, reflexões e muitas situações, disponibilizo um ensaio meu e uma entrevistas que resultaram na minha experiência conversando com o músico Renan Rocha, que agora lança seu primeiro single solo “Debaixo do Travesseiro” lançado pela Eu Te Amo Records no dia 11/04.
Pelo contexto que aconteceu a conversa e o longo tempo após a mesma, decidi realizar uma (longa) interpretação pessoal ao invés de um lead informativo antes da entrevista. Apesar do caráter excepcional, por se tratar de uma conversa ampla de vários campos da vida.
Classifico o texto com lado B por ter sido redigido por quem vos escreve essencialmente. Pelo conteúdo de entrevista, hoje não teremos listas e pílulas culturais.
Feito esse comentário, vamos para o texto:
Somos soterrados por informações, expectativas, metas e funções, que podem vir de uma forma explícita ou ser incorporados inconscientemente. Nessa era, um dos principais componentes da nossa vida, a internet, quiçá mais ambígua que Capitu e pode ser de fato um abismo predatório ou um ótimo aliado para nossa existência, às vezes ambos ao mesmo tempo.
Vivemos a época de um grande fluxo geracional que está pareado com o consumo, um processo que se define pela automatização, instantaneidade daquilo que te cerca de desejos, vontades e um sentimento de validação, mas isso acaba te prendendo como se fosse o protagonista de Oldboy. Quem viu, ou sabe da história por trás da adaptação do mangá de mesmo nome dirigida por Park Chan-wook, sabe que existem contornos macabros em buscar algumas respostas que parecem muito óbvias, só que a realidade não é bem o que parece, essa é grande lição que percebemos no momento que saímos da própria caverna e percebemos o tamanho de certas distorções e o impacto de certos ruídos, é claro que nem tudo vai envolver exemplos tão extremos, mas fica um ponto de identificação.
O que quis dizer aqui é que algumas coisas são mesmo incontornáveis a partir das escolhas que faz e as consequências delas. Tudo que faz reflete de alguma forma no momento que está que agora, de alguma forma ou outra.
Ciclos se fecham, renovam, algumas coisas perdem o sentido, outras coisas se renovam, criam novos significados. Nesse palco sem fim vamos vivendo com dúvidas, arrependimentos, desejos, impressões e mudanças contínuas. Dificilmente encontramos respostas, principalmente as mais concretas. O que sobra são alguns indícios, pistas, uns mapas mentais de como essa coisa louca que é viver funciona. Só que sinto que bem no fundo tateamos no escuro, com aquela iluminação precária da lanterninha do celular mesmo.
Chegamos em conclusões confusas, a percepção que sempre vai faltar alguma coisa enquanto se percebe o fechar de algumas portas, e tombamos nos caminhos tortos da vida em absurdos, acidentes e conflitos que nem o roteirista de mente mais fértil e profícua provavelmente seria capaz de imaginar (mas o que é ficção, o que é a realidade….)
Nesse estágio borrado em que as dúvidas e equívocos persistem, me suscitam a necessidade de realizar algumas perguntas os “porquês” ‘comos”, “de qual forma” da vida. A compreensão que para chegar em algum lugar faz necessário a busca de compreender signos, entendimentos que justifiquem a vida para situações que parecem tão fora de alcance. Isso vale para qualquer coisa, da banalidade do dia a dia: por exemplo “Qual a origem da água? “Como se produz energia elétrica”, “Como a arte rupestre se manteve por inúmeras gerações?” Só que ao mesmo tempo sinto que vontade de saber, entender o que se passa parece capturada pela individualidade, por se satisfazer com algumas redes (não só as que estão na boca do povo com as redes sociais da internet, ou a cultura reproduzida de forma industrial).
Só que também das nossas funções sociais como seres humanos. Não queremos saber muito o que você faz além da primeira página, o que você almeja, quais são seus sonhos (sem que esteja em um documentário ou algum vídeo para rede social, entrevista de emprego, ou qualquer função utilitária), saber mesmo o que a pessoa pensa da vida, quais são as questões que instigam.
Talvez valha mais o pertencimento de “um avatar de internet” e as designações mínimas para entender quem você é nesse pequeno recorte de relacionamentos entre humanos, seja por amigos, família, parceiros românticos ou até com animais. Eu sinto que não há tanto espaço hoje para investigar, descobrir e se expor sem interesse por trás. Nisso vale para mim também que está escrevendo isso para ser lido e talvez ser divulgado, eventualmente validado, enfim.
Reconheço a probabilidade ENORME de presunção, de querer mostrar muito conhecimento. Na verdade sou apenas mais vocalizando ansiedades, buscando conexão e entendimento comigo e com os outros na busca da amabilidade e de conectar mais com o intangível, talvez pareça que sei tudo e estou falando de uma forma imperativa, realmente me parece isso.
São apenas palavras do que eu sinto hoje, e falando dessa experiência percebo muito de como essa individualidade foi prejudicial (afinal é uma mensagem interna também, uma vez que venho cometendo esses erros, que para mim são erros). Na verdade, esse (longo) texto inicial, é um mea culpa direcionado a algo menos geral.
Me lembro da figura do João Moreira Salles no documentário “Santiago” (...uh.. talvez seja uma referência forçada). Mas no filme de 2007, a incapacidade de trabalhar com um material e a retomada desse material vem com autocríticas e reconsiderações, bom, salvo essa única semelhança. Vejo o quanto a imaturidade, a dificuldade de lidar com as situações, o excesso de viés, a arrogância, a falta de maturidade no seu próprio olhar, a falta de resiliência proporcionam manchas e nas devidas proporções elas acarretam em coisas desagradáveis para todos e não é aceitável.
Mas acontece, todos cometem equívocos, mas existem erros e erros, como falado em outro parágrafos todas ações tem consequência tem situações que não tem nenhuma justificativa plausível para serem tolerados, não é como se tivesse feito algo por ter uma arma apontada para mim, ou se eu tivesse em estado terminal ao não fazer determinadas atitudes, mas apenas uma avalanche de excessos de pensamentos, inseguranças e também, a procrastinação em achar que você nunca vai sair do lugar e ao pensar sobre isso em excesso e deixar aquilo te prostrar, e isso realmente acontece. Algo que me assombra até hoje (mas fiquemos por aqui, não é pra falar disso neste texto).
Essas voltas foram para tentar apresentar uma situação e reflexão do que aconteceu ao entrevistar o músico Renan Rocha (parte do duo Kassel e vocalista da extinta banda Two Places At Once). O single “Debaixo do Travesseiro” traz também esses pensamentos sobre a vida e a morte e por isso acabei tendo a audácia de ressignificar com que sentia. Claro que parti para conversar com ele na premissa de jornalista, mas como bem perceberam (espero), renunciei a isso.
Até porque é no mínimo uma falta de consideração abandonar uma entrevista reveladora e frutífera que durou quase duas horas, por conta de uma falta de tato digital ao usar um software de gravação. Foi um verdadeiro exemplo do QUE NÃO SE DEVE FAZER COMO JORNALISTA (após rios de opiniões e subjetividades, enfim a hipocrisia). Tenho consciência que falar disso não ameniza o erro, mas se trata aqui de uma conversa confessional e reflexiva.
Essa tentativa de enxergar o passado com outra ótica é que eu almejo, de perceber a existência de algo a ser perseguido, porém de tentar entender qual foi o caminho que cheguei e como posso sair ou chegar mais longe, afinal, a conjuntura das coisas se dá por uma questão de perspectiva, de percepção do estado geral de determinadas funções. E o que faz sentido agora, um dia possivelmente não vai fazer mais e o que buscamos tanto agora, pode ser uma necessidade banal lá para frente. Às vezes quanto mais você deseja alguma coisa, mais estagnante isso pode vir a se tornar, vira uma obsessão, uma culpa por não estar lá, um sentimento de fracasso, de angústias. Mas isso não quer dizer que a gente não possa fazer nossa parte e tentar de alguma forma exercer o que nós acreditamos, mesmo que isso dê até uma tontura.
A ideia era lançar este texto ainda no calor desse lançamento embora não tenha conseguido por uma série de fatores pessoais (isso é um sinal que muita coisa precisa ser revista, mas novamente não é pra ser o papo aqui).
Mesmo que o meu planejamento tenha saído muito longe do desejável, ainda sim penso nesse lado do oportunismo, especialmente para jornalistas e profissionais que entrevistam outras pessoas, no sentido de só perceber o fato quando ele é relevante para você e seu veículo, e quando isso está alinhado dentro do seu próprio interesse, não à toa o jornalista, (seguindo a minha ambição de jornalismo cultural passa por sucessivos questionamentos e “crises” mas passar por questionamentos e instabilidades da função social não quer dizer que não tenha espaço e importância, afinal o que nos retroalimenta é esse fluxo da informação abastecida por essa inglória mas ao mesmo tempo tão destacada posição.
Dilemas, falando neles penso que provavelmente esse texto não existisse se não tivesse visto um vídeo do Renan no Instagram, resumidamente girou em torno de ter que estar sempre preocupado com o próximo lançamento e não ver um sentido e se sentir como uma esteira de produção tendo que rolar entre a expectativa de ser divulgado, a quantidade de acessos, os clipes, - tô explicando demais. Talvez seja melhor ver o vídeo
Por não achar que certas coisas têm solução, nunca saímos do lugar. E apesar desse conteúdo ser também uma tremenda egotrip, acredito nesse poder da comunicação, da alteridade, da sinergia. Falando por mim, sinto que o foco excessivo em erros e a falta de resiliência de buscar possibilidades, de fazer diferente e como ele diz no vídeo reencontrar um certo sentido para a própria arte com quem você foi, os tempos mudam e nós também, mas tem aquilo que se move, um trânsito contínuo de sensações, visões de mundo, comportamentos e ideologias que compõe nossa essência e essa busca por encontrar o que nos motiva a seguir mesmo com todas adversidades, essas palavras tão acolhedoras e sensíveis por parte dele me tocaram muito.
Percebi que não poderia mais ignorar o que foi feito naquele momento, mesmo em condições longe das ideais e considerando que até busquei uma alternativa ou outra, mas os caminhos estavam desencontrados. Nessas rotas de placas trocadas, percebi que tinha que criar meu próprio waze (seguindo na analogia rodoviárias) ou seja alguma coisa dentro do meu alcance.
Pois contava com um material revelador e que poderia ter antecipado certos acontecimentos que não antecipei em última instância, embora não tenha saído como proposto, pelo menos tento encarar com um novo encontro, um novo processo e principalmente vejo que é melhor algo feito do que algo que nunca existiu….
LINK DA ENTREVISTA NA ÍNTEGRA ORIGINALMENTE FEITA EM 21/12/2023.
Ficamos por aqui hoje, saudações e um bom final de semana! Até breve.