LADO B: (10) - Os giros da performance
Comentários hoje sobre "Assassino por Acaso", novo filme de Richard Linklater e que acaba de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros.
Retomamos o Lado B, com um comentário sobre Assassino por Acaso (Hit Man) de Richard Linklater, que tem dado e mesmo reconhecendo as dificuldades monetárias e do circuito exibidor, este que chegou aos cinemas no dia dos namorados (12/06) e segue em cartaz em salas selecionadas.
Richard Linklater é um cineasta dos tempos, dos encontros, das gerações e acima de tudo das relações. Frequentemente adota métodos e abordagens particulares, como o caleidoscópio de vários filmes e reflexões dentro de uma narrativa em rotoscopia (Waking Life), ou de um retrato literal de amadurecimento transportado pelas rédeas da ficção (Boyhood), entre releituras de outros cineastas (A Melhor Escolha) ou até mesmo ensaios experimentais (Heads I Win/Tails You Lose).
Fato é que a obra do cineasta ganha contornos muito características e peculiares. Dentro dessas particulares, um fator que me chama atenção é o alcance do cineasta com alguém que entende a profundidade da palavra, da interação humana, os famigerados diálogos que frequentemente viram muletas ou reduzem muito de uma regra não oficial, mas vital para a percepção cinematográfica: ao invés de falar mostre!
Entretanto Linklater sempre teve o que mostrar, versátil, inquieto, a gama de repertórios do diretor ainda aparecem com vigor mesmo com quatro décadas de atuação. Em “Hit Man”, sucesso no festival de Veneza e vendido comercialmente para a Netflix nos Estados Unidos, o filme finalmente chega ao grande público e mostra algo que ele tem de melhor, a ética, os dilemas mora despojamento, a leveza e um convite hábil e prazeroso sobre a performance, a atração, a crise da moral, o cinismo. E é a partir dessa montanha russa de ilusões, sensações, que não subestimam a capacidade de compreensão e percepção de quem assiste, mas também não se faz complexo demais. Na medida
É bem claro que a parceria talvez não tivesse sido a mesma sem a parceria de Glen Powell, não só protagonista, como co-roteirista. Ele que já tinha se mostrado um nome a ser acompanhado em um passado não tão distante tanto com o próprio Linklater (Jovens Mais Loucos e Mais Rebeldes) e o arrasa-quarteirão “Top Gun: Maverick. Mas aqui ele está em um estado de graça, a profecia se cumpriu e o que era promissor, se torna um ímã, sedutor, vulnerável, inteligente, estúpido, empático e egoísta. Ele reacende essa dubiedade com o maior charme possível e Adria Arjona, responde à altura, numa frequência muito parecida entre uma jovem vulnerável e uma femme fatale.
Familiar, mas nunca mais do mesmo. A agilidade, as nuances e mudanças de gênero (comédia, thriller, drama romântico), fazem com que o filme flutue em uma orquestra envolvente que não importa o mais absurdo, o improvável, o estapafúrdio. A atuação te faz perder quem você é? Te traz um novo você? adormece alguém que sempre esteve ali? É tudo muito ambíguo e fascinante.
A autoconsciência e o domínio das convenções cômicas (é um filme que não esconde às ironias mas faz dela uma grande jogatina e nesse jogo de cena você pode ser um professor comum, um agente infiltrado, um homem bloqueado para relacionamentos, uma pessoa apaixonada e entre essa infinidade de personas e características e que nos movimentamos errados e apaixonantes)
É nessa ilusão crítica e paradoxalmente gostosa. Uma comédia de equívocos, pactos e quebra de pactos, nós espectadores, críticos que amamos tanto e odiamos tanto. Mais um golaço
LISTA DA SEMANA:
4 filmes de Richard Linklater:
Seguindo de maneira extremamente previsível, mantenho a lógica e listo alguns filmes que tiveram um grande impacto em mim da carreira do cineasta, mas vou abster da tão famosa trilogia protagonizada por Ethan Hawke e Julie Delpy. Bom, lá vai…
1) Slacker (Indisponível)
2) Bernie (Indisponível)
4) Amargo Reencontro (Indisponível)
PÍLULAS CULTURAIS: +LINKS
🎧🎙️ - Glênis Cardoso, uma das principais responsáveis pela restauração de filmes brasileiros na atualidade deu uma aula de storytelling na Rádio Novelo Apresenta e a paixão pela memória, pelos encontros com o cinema e de cinema. (Rádio Novelo Apresenta EP 81: Palácio da Memória)
🎥 - Para acompanhar o episódio veja os filmes citados no episódio e leia sobre no site do Cinelimite, uma organização sem fins lucrativos que promove a memória do cinema brasileiro com restaurações de filmes brasileiros mundo afora. A Onda de filmes super-8 na Paraíba agora pode ser vista por todos, (mas corre que é por tempo limitado). (Cinelimite)
📰 - O quinto Festival 3i de Jornalismo Independente acontece neste final de semana de 13, a 16/06 no Rio de Janeiro, os ingressos estão esgotados, mas as palestras estão sendo divulgados na canal do Youtube. (Festival 3i)
Por hoje ficamos por aqui e até breve!