LADO B: (Extra), 19/06 - Dia do Cinema Brasileiro
Na efeméride de hoje comentamos um pouco sobre a data mencionada no título e algumas percepções, e claro, algumas breves recomendações...
É bem verdade que deixamos passar algumas datas e nem todos compromissos incialmente pré-estipulados por aqui foram cumpridos, mas bem, falemos do que realmente interessa nesta edição especial:
Antes de começar o texto, preciso fazer uma confissão: Sou péssimo com datas comemorativas —Sério—, Não lembro com exatidão datas específicas para além de feriados e datas marcantes e de todo modo, por mais que tenha uma função social de lembrança, preservação da memória, celebração social e tradição.
Também acredito que seja perceptível que muito destas datas são desvirtuadas e passam a servir para um propósito cínico, comercial e egoísta. Não lembramos de tudo, muito menos de todos. Essa lacuna restritiva que passa muito por mim (quantas pessoas especiais não dei os parabéns, quantas datas relevantes sequer lembrei).
Lapsos, aproveitando essa deixa é exatamente sobre a pauta de hoje: O Dia do Cinema Brasileiro, essa data que várias pessoas recomendam filmes e furam as bolhas dos entusiastas de sempre. Foi um assunto recorrente aqui no Súbito desde os finados posts que foram arquivados (para quem acompanha desde o início).
É uma paixão minha e genuinamente pela mágica da linguagem, das sensações, possibilidades. Por mais que algumas pessoas impliquem isso o cinema brasileiro “de qualidade” é resumido a quatro filmes e tudo é uma porcaria empacotada de comédias de má qualidade, filmes vulgares e de mau tom. Monopólio estadunidense e europeu que sucateiam as possibilidades de exibição, ciclos viciosos de distribuição, estigmas sociais como “o viralatismo”, “a menos valia”, “a necessidade de comparação” muitos são os fatores culturais que criam esse efeito manada. Para um ponto mais didático e estudo reproduzo um trecho de “Cinema brasileiro: Propostas para uma história” de Jean Claude Bernardet, que apesar de ser escrito em 1979 e ter tido reimpressões em 2009, ainda diz muito sobre os dias de hoje
A respeito de Sofrer para gozar: “A direção de cena esteve a cargo de um profissional competente e profundo conhecedor dos meios cinematográficos norte-americanos” (O Estado de S. Paulo, 27/6/1924). Manifestação não de qualidade cinematográfica, mas de um arraigado complexo de inferioridade. Mesmo rejeitando o cinema brasileiro, ou aceitando-o na medida que ele se igualaria às melhores produções estrangeiras ou receba a chancela metropolitana. esse público, queira ou não, perceba ou não, relaciona-se com os filmes brasileiros de modo completamente diferente, porque eles falam da realidade social e cultural em que vive esse público. Não necessariamente por oferecer um ponto de vista crítico sobre essa realidade, mesmo quando tentativa de imitação de produção estrangeira, mesmo quando a realidade brasileira apresentada está obviamente deturpada, esse filme oferece uma determinada imagem dessa sociedade (…) A má qualidade que o público atribui ao cinema brasileiro não é apenas um julgamento de valor sobre determinada obra cinematográfica, mas me parece ser um julgamento sobre a má qualidade da realidade brasileira.
Ironicamente celebrar esse dia do cinema brasileiro também é constatar que o filme que inaugura as produções cinematográficas do país, “A Vista da Baía de Guanabara” dos Irmãos Alfonso e Paschoal Segreto, jamais exibido estabelece uma relação incômoda que se perpetua por muito tempo, quantos filmes foram perdidos por incêndios, ingerências governamentais, falta de estrutura para preservação, quantos cinemas de rua se perdem em meio ao projeto de gentrificação de cidades. Quantos filmes brasileiros mesmo digitalizados são esquecidos.
Entretanto a ideia aqui não é tecer comentários depreciativos. —Nós produzimos e muito—, a despeito de qualquer adversidade, período histórico e os exemplos não são poucos e é nessa continuidade e na possibilidade dos realizadores, produtores, agitadores culturais, pesquisadores, professores e críticos que ainda movimentam, instigam e permitem que a chama não apague de geração a geração e para finalizar com uma frase cliché e de efeito, mesmo que jocosa… enquanto houver vida, haverá cinema brasileiro. Manadas, incêndios, picuinhas não são capazes de apagar a chama da criação, da inventividade, da audácia, da beleza, da ironia, do escracho, da dádiva de rir de si mesmo.
LISTA ESPECIAL DA SEMANA:
05 FILMES BRASILEIROS:
A postagem não contará com o quadro pílulas culturais, mas pela temática e relevância decidimos trazer algumas recomendações sortidas. A proposta é simplesmente destacar filmes que acho que mereçam atenção, mas com nenhum propósito canônico ou específico. A ideia seria discorrer um pouco sobre os filmes, mas pelo horário, infelizmente fica para próxima oportunidade…
Tudo Azul (1952) - Dir: Moacyr Fenelon
Sinopse: Homem simples e dedicado marido sonha ver suas composições gravadas. Após uma crise conjugal, tenta o suicídio tomando barbitúricos. Entra em transe e, através de um sonho, vê suas músicas fazendo sucesso. Quando acorda, percebe que tudo não passou de uma ilusão, mas sua vida não será mais a mesma
Amei Um Bicheiro (1952) - Dir: Jorge Ilei, Paulo Wanderley
Sinopse: Com a promessa de se casar num futuro próximo com Laura, Carlos deixa o interior e parte em direção ao Rio de Janeiro para tentar a sorte. Na capital, se envolve com o jogo do bicho e acaba na prisão. Ao sair, casa-se com Laura e ambos decidem morar no Rio de Janeiro. Sem trabalho, Carlos aceita a proposta de Almeida, o bicheiro, para um cargo de confiança na banca de jogo
O Petróleo É Nosso! (1954) - Dir: Watson Macedo
Sinopse: Dona Perpétua é proprietária de uma grande área de terra onde, segundo se diz, existem vários poços petrolíferos. Para apurar devidamente a existência de petróleo em suas terras, D. Perpétua vai à capital, em companhia de seu marido e de sua filha Marisa.
Mineirinho Vivo ou Morto (1967) - Dir: Aurélio Teixeira
Sinopse: Os motivos que conduziram José Rosa de Miranda, o Mineirinho, ao crime até ser morto pela polícia. O bandido foi transformado pela imprensa em inimigo público depois de matar um homem acidentalmente
A Força de Xangô (1977) - Dir: Iberê Carvalho
Sinopse: Cansada de ser colocada de lado no namoro com o fanfarrão Tonho, a bela Zulmira pede ajuda aos seus santos para tirar do "amado" toda a sua alegria de viver
O texto é uma celebração ao Cinema! Parabéns!